Se você viveu no Brasil entre os anos 1980 e 1990, certamente se arrepia ao ouvir a palavra inflação. Se não viveu, com certeza, já ouviu familiares falando sobre esse período em que o país estava em total caos financeiro. Remarcação diária de preços, carrinhos lotados com as compras do mês, discrepância entre o valor dos produtos em todos os segmentos e tipos de empresa são algumas das lembranças que marcaram a época.

Um fogão de brinquedo, por exemplo, poderia custar mais do que um fogão de verdade, como conta a jornalista Miriam Leitão, em seu livro Saga Brasileira. O que muitos não sabem é que o que acontecia naquela época não era a inflação pura e simples, mas, sim, a hiperinflação, quando os índices ultrapassaram 50% ao mês.

A inflação, na verdade, continua presente no nosso dia a dia, mas foi controlada a partir da criação do Plano Real, em 1994. Mas, se aquilo não era inflação, o que era, então? Pensando nas dúvidas comuns sobre o tema e na importância deste índice para proteger os investimentos do seu negócio, preparamos este artigo para você.

Acompanhe a leitura!

O que é inflação?

Na economia, em linhas gerais, chamamos de inflação o aumento dos preços de bens e serviços. Por exemplo, digamos que no mês passado você foi ao mercado e adquiriu um pacote de 5kg de arroz por R$ 10,40. Hoje, você vai ao mesmo mercado e encontra esse mesmo pacote de arroz por R$ 11. É claro que as causas para a variação podem ser muitas, mas isso pode indicar um cenário geral de valorização de um produto no país.

A inflação é medida pela variação, por exemplo, de R$ 0,60 no arroz. No Brasil, é o IBGE que mede os índices inflacionários. O instituto faz isso com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares, que verifica o que a população consome, cria uma espécie de cesta de produtos e avalia quanto do salário da família é gasto em cada um deles. Com isso, o IBGE pode medir os dois principais índices de inflação no Brasil: Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

IPCA

Como o próprio nome já indica, este índice é mais amplo e mede a variação de preço de bens adquiridos por famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos em 13 regiões metropolitanas. O levantamento é feito em 30 mil locais e reúne, aproximadamente, 430 mil preços.

Os preços são comparados aos do mês anterior. Como resultado, chega-se a um único valor, que é a variação geral de preços ao consumidor. O IPCA é o índice considerado pelo Governo Federal como oficial. Por isso, é usado como referência para as metas de inflação e para as alterações na taxa de juros.

INPC

O INPC é um pouco mais restrito por verificar a variação dos preços apenas em famílias cuja renda mensal está entre 1 e 5 salários mínimos. Por outro lado, o índice é capaz de apontar a oscilação no custo de vida para grupos mais vulneráveis e que tendem a ser gravemente afetados pelo contexto inflacionário. Isso porque, tendo em vista a remuneração, podem vir a gastar todo o rendimento mensal em itens básicos.

Com a inflação, como fica meu negócio?

Agora que você já sabe o que é inflação, precisamos tocar em seu ponto sensível: a inflação impacta diretamente o nosso poder de compra e desvaloriza o nosso dinheiro. Voltando ao exemplo do arroz, este mês você pode precisar de mais R$ 0,60 para comprar o mesmo produto. Do mesmo modo, os demais insumos que você precisará adquirir ao longo do mês também estão sujeitos à mudança de preço.

Como se pode prever, vai sobrar menos dinheiro no final das contas. E como a inflação impacta todos os campos, o seu negócio não fica de fora disso. O aumento do preço da gasolina, por exemplo, impacta toda a cadeia produtiva, já que influencia no preço do transporte da mercadoria. Você também consegue sentir a inflação na pele quando entra em contato com um fornecedor, e os preços são reajustados.

Como consequência, o aumento nos custos de produção acabam sendo repassados ao seu cliente. Mas se lembre de que o seu consumidor também está com o poder de compra comprometido. Todos esses fatores devem ser verificados para que o repasse seja proporcional ao aumento dos seus gastos, de modo que as vendas, o lucro e o faturamento do negócio não sejam prejudicados no longo prazo.

Como manter o negócio preparado para a inflação?

É importante lembrar que o IPCA é voltado ao consumidor, não às organizações. Mas isso não significa que o índice não seja importante. Pelo contrário, é fundamental que os empreendedores fiquem atentos ao IPCA para observar a expectativa de consumo. Uma variação pequena de preços, ou seja, inflação baixa, pode ser ótima para os seus negócios. Mas você precisa estar atento e criar uma estratégia em cima disso.

Entendemos que, para o empreendedor brasileiro, muitas vezes, não é possível traçar uma estratégia de longo prazo. Mas nossa dica é: sabendo que a inflação vai impactar o seu negócio, não é melhor estar preparado?

Sendo assim, tente tirar ao menos alguns minutos do seu dia para ler notícias sobre a variação da inflação e pensar como isso pode afetar as estratégias e o que pode ser feito a partir dessas informações.

Como proteger os investimentos desse índice?

Como visto, toda a estratégia do negócio pode ser comprometida a partir da variação nos índices de inflação. Desde o custo de produção até as metas de vendas podem ser impactadas. O mesmo ocorre com os investimentos. Nesse sentido, é importante saber como protegê-los das oscilações significativas do índice.

Confira, a seguir, algumas dicas para isso!

Invista em títulos atrelados à inflação

O aumento da inflação é especialmente ruim para os negócios porque desvaloriza os investimentos operados. Uma das formas de proteger seu capital contra a alta dos preços, nesse sentido, é buscar tipos de aplicação financeira mais conservadores e atrelados aos índices de inflação no país.

Nesse sentido, os títulos de renda fixa, como o Tesouro IPCA, podem ser uma ótima opção. Afinal, o valor percebido terá rentabilidade condizente com o índice oficial acrescido de uma taxa fixa previamente estabelecida. Isto, é claro, permite que os seus investimentos acompanhem a alta dos preços.

Escolha opções com rentabilidade superior

Do mesmo modo, quando o objetivo é superar a inflação, vale evitar investimentos com rentabilidade inferior aos índices atuais. A poupança, por exemplo, vem sendo ultrapassada pela inflação. Isso significa que, se você deixar o capital do negócio parado nessa conta, poderá sofrer perdas significativas no longo prazo.

Sendo assim, busque opções no mercado com rentabilidade superior. No entanto, esteja seguro sobre os riscos que esse rendimento mais alto pode oferecer para o seu capital.

Aplique no próprio negócio

Por último, para se proteger da inflação, é fundamental investir e aplicar no seu próprio negócio. Um dos grandes erros cometidos por gestores é, diante da alta dos preços, cortar gastos para economizar dinheiro em áreas consideradas não essenciais, como o marketing.

Como consequência da falta de investimento estratégico, entretanto, o seu negócio pode ser ainda mais prejudicado. Nesse caso, por exemplo, a ausência das ações de marketing pode reduzir a conversão em vendas, fazendo com que os custos sejam maiores que o retorno nessa área.

Como usar a inflação a seu favor?

Confira agora algumas dicas que podem ser aproveitadas para usar a inflação a seu favor!

Monitore as contas

Em primeiro lugar, monitore as contas básicas da sua instituição, como água, energia elétrica e telefonia, que são reajustadas com base na inflação. Pense em como você pode implantar políticas de redução desses custos. No caso da telefonia, por exemplo, ligue para a prestadora de serviço para tentar melhorar o valor que você paga atualmente. Isso vale para todos os provedores, inclusive os de internet.

Fique de olho no IGP-M

Em segundo lugar, se o seu negócio fica em um espaço alugado, você também precisa ficar de olho em outro índice. O IGP-M, ou Índice Geral de Preços do Mercado, é usado para reajustar os preços dos contratos de locação. Se houver diminuição dos índices, portanto, você pode barganhar uma redução do valor de aluguel. Viu como pode ser importante acompanhar os números?

Reavalie contratos de fornecimento

Em terceiro lugar, conhecer a variação da inflação também ajuda na hora de comprar para o seu negócio. Se você sabe que a inflação não está tão alta e os preços do seu fornecedor não estão acompanhando as mudanças, talvez seja a hora de mudar de fornecedor ou buscar uma melhor gestão dos contratos de fornecimento. Temos aqui outra boa oportunidade de barganhar. Aproveite!

Considere a oferta e demanda

Como a inflação segue a lei da oferta e da demanda, saber se o índice está mais alto ou mais baixo também ajuda na produção do negócio. Por exemplo, se você sabe que os índices estão altos, talvez não seja a hora de investir em um novo produto para o cliente, já que, com a inflação alta, ele tende a diminuir o consumo.

Sem dúvidas, a inflação é fator determinante para a sustentabilidade do seu negócio no mercado. Se monitorada adequadamente, ela pode auxiliar na tomada de decisão pelo gestor, apontando oportunidades e indicando riscos em relação aos investimentos operados pela organização.

Se, por outro lado, for negligenciada, pode trazer sérios riscos ao negócio e inviabilizar a continuidade de suas atividades. Nesse sentido, é importante que, nas projeções de cenário realizadas, o administrador considere os índices atrelados à inflação e as medidas adotadas pelo Banco Central para o controle da alta dos preços.

A taxa Selic, por exemplo, é outro indicador que o negócio deve considerar. Trata-se da taxa básica de juros da economia, que influencia em todas as operações de crédito, contrato de empréstimo e financiamento. A Selic é um instrumento do Banco Central para controlar os índices de preço.

De modo geral, quando a inflação está em alta, o órgão também aumenta essa taxa para desestimular o consumo e, assim, controlar os preços no mercado. Quando a Selic é reduzida, portanto, o gestor pode esperar o inverso: um estímulo maior ao consumo e clientes mais ativos.

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